sábado, 1 de janeiro de 2011

NOSSO SENHOR DOS NAVEGANTES

A festa de Nosso Senhor dos Navegantes é celebrada no último dia do ano em quase todas as pequenas cidades de pescadores do litoral nordestino, mas as maiores manifestações acontecem em Penedo, Alagoas, e em Salvador, Bahia nesta última ela é realizada no dia 1º de janeiro. De caráter religioso, a festa certamente foi introduzida no Brasil pelos portugueses católicos, mas a participação popular agregou a ela fortes características africanas. Na maioria das cidades em que acontece, a comemoração consiste numa procissão de barcos enfeitados com flores, fitas e bandeirinhas, um deles conduzindo a imagem do santo.

Na Bahia, não se sabe exatamente quando ela começou, já que inexistem documentos relatando a ocorrência. Supõe-se que a construção da capela da Boa Viagem, em 1750, seja a causa da devoção, embora outros acreditem na lenda de que tudo tem a ver com a promessa feita pelos sobreviventes de um naufrágio ocorrido nas proximidades de Salvador. Uma terceira corrente alega que essa comemoração foi iniciada quando a família real portuguesa chegou à Bahia, em 1808, mas de concreto, mesmo, sabe-se que embarque e desembarque da imagem de Nosso Senhor dos Navegantes, até 1890, eram feitos nas docas do Arsenal da Marinha, que cedia a embarcação para o traslado. Mas como a partir de 1891 isso foi proibido pelas autoridades, o transporte passou a ser feito em galeota mandada construir pelos fiéis, e que é utilizada até hoje, da mesma forma como se começou a usar o cais da alfândega.

Muitas descrições da festa de Nosso Senhor dos Navegantes já foram feitas. Dentre estas destacam-se a de 1951, pelo jornalista, poeta e colecionador Odorico Tavares (1912/1980), ao escrever “Bahia – imagens da terra e do povo”, disse que ‘Não pode haver espetáculo mais belo do que esse desfile de centenas de barcos através da baía de Todos os Santos, acompanhando a galeota do protetor dos navegantes, saindo do porto, indo até a entrada da barra e regressando à praia da Boa Viagem, em Monteserrate (...) Das muradas da cidade alta, do cais, das praias, a população vai ver o cortejo do santo protetor dos navegantes. Que nenhum visitante, nenhum turista que esteja na Bahia no primeiro dia do ano perca a cena soberba, pois jamais a esquecerá’.

Descrevendo o andamento da festa religiosa, Odorico relata que “Às vésperas do ano novo, à tarde, a imagem do santo é trazida da igrejinha de Nossa Senhora da Boa Viagem, em Monteserrate. (...) A igrejinha tem uma bela fachada e é do século XVII. Dali vem o santo e é trazido até a Rampa do Mercado e levado em pequena procissão para a igreja da Conceição da Praia. A bela imagem da Conceição vem receber o Senhor dos Navegantes que pernoita na suntuosa igreja da cidade baixa. (...) Recolhida a imagem, no dia seguinte tem lugar a procissão. Rezada a missa solene na Conceição da Praia, demanda a imagem até o cais da Alfândega, com acompanhamento, inclusive das autoridades (...) Vai a imagem na sua galeota construída em 1891, por carpinteiros que a presentearam ao santo. É graciosa a galeota, com seu anjo na proa, toda pintada de branco, orgulhosa de conduzir o guardião de todos os navegantes. Está no cais cercada de centenas de embarcações, milhares de pessoas disputando lugares, grupos, batucadas, rodas de sambas formadas, belas morenas conduzindo melancias, mangas, cajus, todo o esplendor da música popular baiana ali arrebenta num louvor ao santo. Chegando a imagem, é conduzida para a galeota e esta puxada por uma lancha a motor. Começa a mover-se a procissão, velas brancas, azuis, vermelhas se levantam para o céu e aos poucos o cortejo toma forma e se conduz para os lados da Barra, singrando serenamente o lago azul em que está transformada a baía de Todos os Santos. Em cada barco, levantam-se os cânticos, o samba assume a sua maior grandeza e ninguém sente diminuição ou desrespeito ao santo, ele que abriga os navegadores das tempestades, os pescadores das iras de Iemanjá, que nos dias sinistros conduz a todos os que foram pegos desprevenidos ao porto de salvação. Deus deu alegria ao homem para expressar o seu agradecimento pela satisfação de viver. E o povo faz chegar o seu agradecimento a Deus pela sua música, pelas suas canções e pela sua alegria”.

Mais adiante, Odorico Tavares conclui: “Passam-se os anos, modificam-se tradições, mas o povo baiano, em sua plenitude, conhece o primeiro dia de cada ano exaltando ao seu Deus, que em tudo manda e rege, como também rege e manda nas águas do mar o Nosso Senhor dos Navegantes”.

Por sua vez, o falecido Leão Rozemberg, fotógrafo de extrema competência que atuou em Salvador, também dá seu depoimento sobre a festa em “Meu Senhor dos Navegantes”, texto publicado pelo jornal Última Hora em 1953:
 
Centenas e centenas de embarcações de todos os tipos deslizam mansamente nas verdes e serenas águas da baía de Todos os Santos nesta primeira manhã do ano. (...) É a festa dos navegantes que se está realizando. Todos os homens do mar, barqueiros, doqueiros, estivadores, pescadores, marítimos, etc., participam da grande festa em homenagem ao padroeiro dos navegantes. E o seu ponto alto é a grande procissão marítima que realizam todos os anos conduzindo a imagem do Senhor dos Navegantes, acompanhado por centenas de embarcações as mais variadas, predominando, sobretudo, os barcos e saveiros que, com suas brancas velas, dão um colorido impressionante ao cortejo (...) A procissão dos navegantes tem o seu início no dia 31 de dezembro quando a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes é transportada, numa procissão menor, da igreja da Boa Viagem para a da Conceição da Praia. Na rampa do mercado é aguardada pela imagem de Nossa Senhora da Conceição, sendo então levada para a igreja da Conceição da Praia, que se encontra próxima. Na manhã de 1º de janeiro todas as embarcações se reúnem e partem do cais da praça Cairu. A procissão vai até a Barra, voltando em seguida sempre acompanhada pelo grande número de embarcações, para a igreja da Boa Viagem, conduzindo a imagem do Senhor dos Navegantes, que volta ao seu altar (...) Segundo se sabe, a tradicional procissão foi assim instituída pelos "costeiros" que faziam tráfego da Costa da África para a Bahia. Logo depois, passou a ser uma festa de todos os homens do mar. 

Por estas notáveis descrições podemos imaginar a beleza desta festa, de forte significado religioso e que se mantém viva por anos e anos, o que demonstra a fé popular no Santo, em especial em Salvador/Ba. A festa abre o calendário festivo que culmina com o Carnaval, logo estamos em festas! É tempo de comemorar e elevar os pensamentos a Olorum para que tenhamos um Ano de muitas realizações e venturas. O ano é de Oxum, mas Olorum é o Deus Supremo, o regente maior ao qual temos devoção. A todos, o meu desejo de um Feliz Ano Novo! Grande Abraço!


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Pedagogo por formação, terapeuta holístico cuja mediunidade aflorou aos 5 anos de idade e desde então vêm crescendo na sua trajetória de vida voltando-se aos estudos da espiritualidade. Alia a mística e a ciência para ajudar a aqueles que o procuram para auxiliar na transposição de obstáculos que a vida a eles impõe.

Além de terapeuta holístico (registrado na Ordem dos Terapeutas Holísticos do Brasil, sob cadastro OTH015), numerólogo, também é adepto do Candomblé e tem como Orixá Iansã, Deusa dos Raios, a qual é regente da vida dele: “Em Iansã, deposito toda fé e confiança! “ – palavras de Alyryo.

Aqui, ele esclarece sobre aspectos desta Entidade, através de artigo publicado na revista 'A História dos Orixás' páginas 50 a 52(Clique aqui para acessá-las).

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