Como
diz o dito popular: 'O hábito faz um monge!' E no Candonblé podemos
observar isso. As roupas usadas num terreiro são carregadas de
simbolismo e misticismo tal como os utensílios e elementos usados
pelos seus adeptos no dia a dia e nos rituais alí celebrados. Então
os convido a conhecer um pouco sobre estas vestes que cobrem seus
adeptos na prática dos rituais e no cotidiano dos terreiros.
Roupa
de ração é a roupa usada diariamente em uma casa de Candomblé.
São roupas simples feitas de morim ou cretone.
As
roupas de ração podem ser coloridas ou brancas, dependendo da
ocasião na roça de candomblé. Compõem o jogo: saia (axó) de
pouca roda para facilitar a movimentação, singuê (espécie de
faixa amarrada nos seios que substitui o sutiã), camisa de mulata,
geralmente branco e enfeitado com rendas e bordados, calçolão
(espécie de bermuda amarrada por cordão na cintura, um pouco larga
para facilitar a movimentação e proteger o corpo em casos que se é
necessário sentar no chão), pano da costa e o ojá, um pano que se
amarra à cabeça.
O
axó tem uma representação muito grande no Jeje. A roupa fala de um
simbolismo muito especial, que além de ético e moral, os axós dão
para as mulheres posição e postura. É bonito se notar a forma e a
reverência que estas roupas expressam em sua aparência e jeito:
respeito acima de tudo! As mulheres de jeje, especialmente o mahin,
quanto a composição de singuê, de xokotô (espécie de calça,
também chamado "cauçulu"ou calçolão"), saia, e
camisu, compoem seu axó.
O
vestuário de uma Iyalorixá é diferente das roupas usadas pelas
ekédis e yaôs, é caracterizada pelo uso da "Bata" que é
usada por fora da saia com o camisu por baixo, nas casas tradicionais
somente a Iyalorixá pode usar, se ela permitir suas filhas egbomis
podem usar também, mas nunca permitirá o uso da Bata por uma ekédi,
Yaô ou abian.
A
Bata é símbolo de cargo ou posto dentro da hierarquia do candomblé.
O pano da costa dobrado sobre o ombro também tem sua representação,
é um símbolo de cargo pois as Yaôs o usam amarrado no peito, as
egbomis na cintura e Iyalorixás no ombro.
Normalmente,
saias e Batas de bordado Richelieu , também só são usadas pelas
Iyalorixás, assim como o pano da costa de Alaká africano.
Os
turbantes também chamados de torço ou ojá, usados na cabeça
normalmente são maiores e mais ornamentados, assim como determinados
fio-de-contas não podem ser usados por pessoas que não tem cargo, o
(fio de ouro)por exemplo só pode ser usado por Iyalorixás com mais
de 50 anos de Santo, símbolo de senioridade (como era usado por mãe
Menininha).
Além
do simbolismo do vestuário, existem muitos objetos que podem ser
caracterizados e usados somente por Iyalorixás e Babalorixás, o
anel de ouro com um búzio incrustado é um deles. O brinco de ouro
com búzio antes também exclusivo das iyalorixás tornou-se de uso
comum, sendo usado até por pessoas que não fazem parte da religião.
Na
nação Jeje o uso do Humgebê só é permitido a quem já fez a
obrigação de sete anos, ou melhor, é quando a pessoa recebe o
hungebê que passa a ser um vodunsi.
Outra
característica do vestuário é o uso do Ojá na cabeça, no
Candomblé Jeje quem é de santo aboró usa o ojá com uma aba, e
quem é de santa Iyabá ou Aiabá usa duas abas.
Os
homens, quando participam em rituais ou nas dependências do Axé…,
usam “roupa de ração”, uma calça amarrada com cordão, espécie
do modelo pijama e camisa de mangas. Possibilidades de uso do pano da
Costa curtas. O tecido é o morim;
-Não
devem vestir bermudas ou short, especialmente se transitam em
ambiente sagrado;
-A
camisa de “ração” é sempre a mais indicada para Iyawôou
Abiyan. Caso use bata, esta tem que ser curta.
Somente
o Egbón pode usá-la mais longa, nos moldes africanos;
-
Os filhos de santo podem usar roupas coloridas, dependendo da ocasião
e da correspondência com o orixá;
Após
três anos de obrigação, os filhos de santo podem usar chinelos;
-Uma
Abiyan usa poucas anáguas. Suas saias e pano da Costa também devem
ser de tecido simples, como morim ou algodãozinho. O Camisu deve ser
simples, segundo modelo tradicional, com rendinhas na barra e mangas
(opcional);
-O
Ojá deve ser amarrado de maneira uniforme, tanto para Ayaba como
para o Abòrixá Okunrin. O laço do peito pode ser mais aberto para
a Ayaba, mais gracioso. Será mais discreto, em forma de gravata,
para o Okunrin;
-
As Abiyans andam descalças, de cabeça baixa, que designa a condição
de pré-iniciadas;
-
As Ayabas usam anágua com mais roda que as Olòrixá Okurin. Os
Camisus devem ser engomados;
-
Somente às Olòrixás Okurin, em qualquer hipótese,
independentemente de tempo de iniciação e hierarquia, é permitido
o uso de fios de conta atravessados;
-
As Ayabas podem usar brincos, argolas, como símbolo de feminilidade.
Isto não é permitido às demais, exceto às filhas de Oxalá,
Xangô, Logunedé e Oxumarê. Os brincos desta podem conter búzios.
No entanto, os brincos devem ser discretos, em harmonia com a ocasião
e os trajes rituais. A preferência é por modelo de argola,
tradicional ao longo de muitas gerações, chamado de “argolas de
saia”;
-
As Ayabas filhas de Oxalá e Logunedé usam pulseiras e anéis. As de
Oxumaré usam braceletes de búzios;
-O
torso da Olòrixá Obinrin é arrumado com as pontas para fora, à
mostra, que denota um certo charme;
-
As Egbóns têm direito ao uso da bata sobre o Camisu, substituindo,
assim, o laço no pano da Costa. Elas se destacam das demais pela
bata, símbolo da maioridade religiosa. A determinação do uso das
batas no término de suas obrigações foi feita por Mãe Aninha. As
Adosus maiores devem respeitar e manter as tradições do Axé… .
Algumas senhoras ainda desrespeitam, talvez por ignorarem, a ordem da
fundadora do Axé…, e circulam pelo terreiro de Camisu, sem pano da
Costa.
-Alguns
terreiros são mais rigorosos e o uso da bata é reservado às altas
autoridades do Egbé. As filhas de santos comuns vão ao barracão
descalças em dia de festa, vestindo Camisu, pano da Costa, laços e
saia sem anáguas, de morim ou de tecido simples, como o algodão ou
chitinha;
Maneiras
de usar o Ojá e o pano da Costa
-
No caso das Egbóns, o pano da Costa deve ser colocado na cintura
elegantemente ou sobre o peito, jamais deve ser enrolado ou torcido,
feito uma faixa ou Ojá, na cintura. O uso da bata dispensa o laço.
-
Uma iniciada deve saber usar o pano da Costa, pois este é uma peça
do vestuário muito importante. Outro fato relevante é quanto à
estampa e cor do tecido. São adequadas as estampas em listras e
quadros que lembram as formas presentes na indumentária nigeriana.
Quando feitos de tecido liso, devem ser de cores claras: branca,
bege, rosa ou azul-claro. Nunca devem ser de cores quentes,
berrantes, de seda ou estampados vivos, o que causaria “risos”
entre as iniciadas mais antigas.
-
Pano da Costa na cintura ou no peito é demonstração de trabalho,
assim usados no barracão, quando em função religiosa. Caso
contrário, no dia-a-dia do terreiro pode ser “jogado” sobre o
ombro direito e se mantém esticado ao longo do tronco. Não se
“dança” sem esta peça da indumentária. Mesmo fora do trabalho,
para visita ou passeio o seu uso é indispensável. Em casas
tradicionais, quando uma iniciada chega sem o pano da Costa é comum
a proprietária do terreiro emprestar um à visitante, que, em sinal
de educação ou respeito, coloca-o sobre o ombro direito ou, se
entrar na roda, usa-o de maneira adequada à sua posição dentro da
hierarquia do Candomblé;
-
O pano da Costa é a peça de maior significado histórico dentro do
vestuário africano, em conjunto com o torso. O uso de saia, Camisu
ou bata e pano da Costa são indispensáveis dentro do Axé… A
maneira de amarrar, colocar ou “enrolar” o pano varia de acordo
com a situação, o ritual desenvolvido ou a posição hierárquica;
-A
saia, o Camisu e as anáguas são heranças européias do século
passado, e ao longo dos anos sofreram algumas variações;
-Iyáwô
não usa o pano na cintura, mas sim enrolado no peito.O laço é
reservado para o barracão e para as que estão de obrigação.
Especialmente nesta situação, o laço sobre o pano da Costa é
indispensável;
-
Entre as Egbóns é indispensável o uso do Camisu sob a bata. Esta
nunca deve estar em cima da pele, diretamente;
-A
Olòrixá tem de usar uma anágua mole, sem goma, sob a saia, para
compor o traje tradicional. É intolerável que as Egbón Àgba
omitam o uso desse ornamento;
-
Ojá de Iyáwô deve ser mais discreto. Nas Ayabas o torso pode ter
as pontas para cima, formando uma espécie de “orelha” ou
“borboletas” laterais. As Egbóns podem amarrá-los com maior
elegância e realce.
Diferentes
usos do Ojá e do pano da Costa serve para deixar aparecer parte do
cabelo ou coque na parte superior da cabeça;
-
Ojá de cabeça não cobre a testa, nunca;
-As
saias de todo o grupo devem ter um comprimento que cubra os
tornozelos. É deselegante o uso de saias curtas ou no meio da perna,
principalmente se deixarem aparecer as anáguas engomadas.
Portanto,
caro leitor internauta, as vestes no Candomblé seguem regras a serem
cumpridas por seus adeptos e como num fardamento militar, descrevem
as posições hierárquicas num terreiro, o tempo de crença e a
função destes no seu funcionamento. Num terreiro, como em tudo na
vida deve existir ordem e regras que o regem para que funcionem
harmonicamente com o ambiente que os envolvem. A paz de Olorum sempre
a nossa frente! Até a próxima postagem!