domingo, 17 de março de 2013

COZINHA DE SANTO

Daqui a alguns dias comemoraremos a Semana Santa e é tradição na Bahia, na sexta-feira desta semana, alimentar-se de comidas regadas a azeite de dendê e leite de coco, principalmente. Delícias várias desfilam nas mesas das famílias com seus aromas e sabores tentadores. Ricos e pobres optam por este cardápio sedutor.

Muitos destes pratos têm sua origem na cozinha africana e alguns deles também devem ser oferecidos aos Orixás como Obrigações e Oferendas. Mas, tais pratos diferem da comida feita para determinado Santo, uma vez que há uma série de preceitos a serem observados para seu consumo e feitura, desde os utensílios de cozinha e até mesmo de quem os manuseia.

A cozinha de santo nas Nações de Keto, Gêge, Angola, Nagô, Ioruba, Bantos, etc., inclusive no Omolocô quando puxado para uma das outras Nações, difere das cozinhas convencionais, onde se prepara o alimento do homem.

Há preceitos do ritual a ser obedecido e utensílios específicos para feitura dos pratos.

Usa-se a MESA OU BANCA onde se colocam os fogareiros a carvão, se na casa não existe ou não tem FOGÃO DE LENHA. Como medida de precaução e até mesmo de maior higiene a mesa modesta, ou banca, deve ser forrada de folha de Flandres (ou folha de alumínio) que evitará seja a madeira queimada pela quentura dos fogareiros e/ou pelas brasas que escapam pela grelha; ela pode ser um pouco comprida para comportar, ao lado, um grande alguidar ou bacia, onde se procedem a lavagem dos utensílios, panelas e louça; Um FOGAREIRO (ou vários) conforme a necessidade, de ferro, para carvão vegetal; PANELAS DE BARRO, vidradas ou simples, ou então de ferro; AS COLHERES são de pau, de variados tipos; RALOS para coco são de folha; URUPEMA (peneira) é de taquara e o COADOR deve ser de folha; MÁQUINA de moer carne. Atualmente já não se encontra PEDRA DE RALAR, DE MOER (mó) para triturar grãos e por esse motivo só pode ser resolvido com um moinho ou pilão; A escumadeira também é de folha; O FOGAREIRO ou o FOGÃO DE LENHA não se abana para os dois lados, mas sim da Direita para a Esquerda.

Montada a cozinha, há pessoas que nela podem trabalhar. São elas: As IABÁS ou IABASSÊS, as cozinheiras do Santo, trabalham paramentadas, vestidas no Ritual. Colocam ao pescoço a Guia ou Guias do Orixá cujo alimento está sendo preparado ou as guias de seus Orixás. É conveniente ter um depósito ou numa dispensa o material ou ingredientes mais usados para se poder atender rapidamente, ao pedido ou ordem superior, referente a qualquer obrigação. Nestes depósitos não pode faltar: Azeite de dendê, Azeite de Oliveira (azeite doce), Arroz quebradinho, Milho Branco, de milho vermelho, Cebolas, Farinha de mandioca, Feijão fradinho, Feijão branco, Feijão vermelho, Fubá de milho vermelho, Fubá de milho branco, Fubá de Arroz, Maisena, Milho alho, Noz moscada, Ori, Pimenta malagueta e Velas.

Antes de começar o trabalho de cozinhar para o santo, a IABÁ, ou filha de fé, ou filha de santo, acende uma vela ao seu ELEDÁ, próximo ou ao lado do local onde vai executar o dito trabalho e ao lado da vela, um copo d'água. Se o trabalho se alongar e a vela terminar, antes que isso aconteça, acende-se outra sobre o toco que está terminando, uma outra e ao terminar o trabalho, retira-se à vela e o copo d'água de perto do fogão ou fogareiro, colocando-a no PEJI ou em lugar alto para terminar, terminada a vela, despacha-se a água em lugar que haja água corrente, no lavatório, no tanque.

Após o serviço, as brasas dos fogareiros são apagadas com areia, nunca com água. Organizada a cozinha, poderemos a qualquer momento, preparar a iguarias originariamente destinadas aos Orixás tal qual são realizadas na fonte doutrinária do Candomblé.

Há uma série de preceitos a serem observados quando se fala em comida de Santo:

- Não se come despido ou sem camisa, é ofensa ao Anjo da Guarda

- Comer com chapéu na cabeça é comer acompanhado de forças negativas.

- Não se come com o prato na mão; a miséria fareja.

- Não se come as pontas dos animais ou aves; são Axés (pertencem) ao santo.

- Dinheiro sobre a mesa de refeições provoca miséria.

- Quando cai comida no chão ou escapa do talher e vai ao solo é sinal de que existe parente passando necessidade.

- Não se apanha alimento que cai ao chão. É das almas.

- Recebe-se o prato com a mão direita; é benção do prato cheio

- Pão não se joga fora; é corpo de Deus.

- Donzela não serve sal, não corta galinha, nem passa palitos; custa a casar.

Relativamente à cozinheira, prescrevem:

- Não se mexe alimentos que estão cozinhando, no sentido da mão esquerda, senão desanda ou encrua.

- Não se mexe comida de Exu com a mão direita, para não absorver fluídos negativos.

- Antes de começar a cozinhar para o santo, faz-se o sinal da cruz, tudo correrá bem.

- Não bata com a tampa da panela quando estiver cozinhando, afugenta a proteção.

- Quando a comida não quer amolecer, coloca-se na panela, três caroços de milho, amolece rápido.

- Não deve cozinhar para o santo: os homens de corpo sujo e as mulheres de corpo aberto; Corta o efeito das obrigações.

Há uma porção de determinações referentes ao ritual do Candomblé, assim:

- Não se cortam aves ou bichos de quatro pés a não ser nas juntas. O santo recusa.

- Obrigação mal feita ou mal arriada, paga-se em dobro.

- Quando se arreia uma obrigação na encruzilhada, não se volta, nem se passa pelo mesmo caminho durante 24 horas, para não pegar os miasmas de retorno.

- Antes de se sacrificar um animal (quando necessário) nos terreiros, manda-se limpá-lo com o Otí correspondente, sem isso o santo não aceita.

- O Sacrifício de aves e/ou animais só são aplicados em último recurso, pois que atualmente procura-se fazer Imantações com base em Frutos e/ou Pedras preciosas dos diversos Orixás.

Logo, caro leitor internauta, diante do exposto, vê-se que um trabalho/obrigação para o Santo pode até parecer com as iguarias servidas comumente nas mesas baianas na Semana Santa, mas há todo um ritual e preceitos a serem observados quando estes são preparados para um fim específico no Candomblé. Para você o meu desejo de venturas e a benção de Olorum nos seus caminhos, até a próxima postagem!

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Quem sou eu

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Pedagogo por formação, terapeuta holístico cuja mediunidade aflorou aos 5 anos de idade e desde então vêm crescendo na sua trajetória de vida voltando-se aos estudos da espiritualidade. Alia a mística e a ciência para ajudar a aqueles que o procuram para auxiliar na transposição de obstáculos que a vida a eles impõe.

Além de terapeuta holístico (registrado na Ordem dos Terapeutas Holísticos do Brasil, sob cadastro OTH015), numerólogo, também é adepto do Candomblé e tem como Orixá Iansã, Deusa dos Raios, a qual é regente da vida dele: “Em Iansã, deposito toda fé e confiança! “ – palavras de Alyryo.

Aqui, ele esclarece sobre aspectos desta Entidade, através de artigo publicado na revista 'A História dos Orixás' páginas 50 a 52(Clique aqui para acessá-las).

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