Entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, existe um portal. É a passagem, a fronteira entre a vida e a morte. Sua regente: Nanã. Senhora da morte, geradora de Iku (morte). Deusa dos pântanos e da Lama. Mãe da varíola, regente das chuvas, Nanã é de origem Jeje, da religião da Dassa Zumê e Savê, no Daomé, hoje conhecida com República de Benin. Protege a barriga, o útero, a parte genital feminina, protege as mulheres gestantes. Seu dia da semana é Terça-feira, de cores: Anil, Branco e Roxo, ostenta um bastão de hastes de palmeira (Ibiri) e usa os bradjas (contas feitas com búzios, dois a dois, e cruzados nos peitos, indicando ascendente e descendente) , dos elementos Terra, Água, Lodo. Senhora da Vida, Morte, Saúde e Maternidade. Sua comida: Aberem (milho torrado e pilado do qual é feito um fubá com açúcar ou mel), mugunzá. Salubá, Nanã!
Deusa dos mistérios, é uma divindade de origem simultânea à criação do mundo, pois quando Odudua separou a água parada da terra, no ponto de contato desses dois elementos formou-se a lama dos pântanos, local onde se encontram os maiores fundamentos de Nanã.
Considerada a Iabá (orixá feminina) mais velha, foi anexada pelos iorubanos nos rituais tal a sua importância. Nanã é a possibilidade de se conhecer a morte para se ter vida. É agradar a morte, para viver em paz. Nanã é a mãe, boa, querida, carinhosa, compreensível, sensível, bondosa, mas que, irada, não reconhece ninguém.
Nas casas de Santo, Nanã é extremamente cultuada e temida, pelo poder que ostenta. É ela a mãe da varíola e se faz presente quando existe epidemia da doença.
Senhora de muitos búzios, Nanã sintetiza em si morte, fecundidade e riqueza. Designa pessoas idosas e respeitáveis e, para os povos Jeje, da região do antigo Daomé, significa “mãe”. Nessa região, onde hoje se encontra a República do Benin, Nanã é muitas vezes considerada a divindade suprema e talvez por essa razão seja descrita como um orixá masculino.
Sendo a mais antiga das divindades das águas, ela representa a memória ancestral do nosso povo: é a mãe antiga (Iyá Agbà). É mãe dos orixás Iroko, Obaluaiê e Oxumaré, mas por ser a deusa mais velha do candomblé é respeitada como mãe por todos os outros orixás.
Ela é a origem e o poder. A mais temida de todas os Orixás. A mais respeitada. A mais velha, poderosa e séria. Nanã é o encantamento da própria morte. Seus cânticos são súplicas para que leve Iku – a morte – para longe e quem permite que a vida seja mantida. Entender Nanã é entender o destino, a vida e a trajetória do homem sobre a terra, pois Nanã é a História.
Nanã é a dona do axé por ser o orixá que dá a vida e a sobrevivência, a senhora dos ibás que permite o nascimento dos deuses e dos homens.
Nanã pode ser a lembrança angustiante da morte na vida do ser humano, mas apenas para aqueles que encaram esse final como algo negativo. Na verdade, apenas as pessoas que têm o coração repleto de maldade e dedicam a vida a prejudicar o próximo se preocupam com isso. Aqueles que praticam boas ações, só esperam da vida dias cada vez melhores e têm a morte como algo natural e inevitável. A sua certeza é a imortalidade da sua essência.
Nanã, a mãe maior, é a luz que nos guia, o nosso cotidiano. Conhecer a própria vida e o próprio destino é conhecer Nanã, pois os fundamentos dos orixás e do Candomblé estão ligados à vida. A nossa vida é o nosso orixá.
É na morte, condição para o renascimento e para a fecundidade, que se encontram os mistérios de Nanã. Respeitada e temida, Nanã, deusa das chuvas, da lama, da terra, juíza que castiga os homens faltosos, é a morte na essência da vida.
Os filhos de Nanã são pessoas bondosas, simpáticas, extremamente limpas e com temperamento artísticos. Extremamente calmas, tão lentas no cumprimento das suas tarefas que chegam a irritar. Agem com benevolência, dignidade e gentileza. As pessoas de Nanã parecem ter a eternidade à sua frente para acabar os seus afazeres; gostam de crianças e educam-nas com excesso de doçura e mansidão, assim como as avós. São pessoas que no modo de agir e até fisicamente aparentam mais idade.
Podem apresentar precocemente problemas de idade, como tendência a viver no passado, de recordações, apresentar infecções reumáticas e problemas nas articulações em geral.
Embora se atribua a Nanã um carácter implacável, os seus filhos têm grande capacidade de perdoar, principalmente as pessoas que amam. São respeitáveis, um comportamento digno da Grande Deusa do Daomé. Filhos de Nanã podem ser teimosos e “ranzinzas”. Porém agem com segurança e majestade. As suas reações bem equilibradas e a pertinência das suas decisões mantêm-nas sempre no caminho da sabedoria e da justiça.
É a força da Natureza que o homem mais teme, pois ninguém quer morrer! Ela é a Senhora da passagem desta vida para outras, comandando o portal mágico, a passagem das dimensões.
Ela é a chuva, a tempestade, a garoa. O banho de chuva, por isso, é uma espécie de lavagem do corpo, homenagem que se faz à Nanã, lavando-se no seu elemento. Por isso, não devemos blasfemar contra a chuva, que muita vezes estraga passeios, programas, compromissos, festas e acontecimentos. A chuva é a parte da vida, que vai irrigar a terra, Se ela cai demais, é porque a força da Natureza, Nanã, está insatisfeita.
Cultuemos Nanã, senhora da vida , nosso início e nosso fim, digna de respeito e veneração. Pelo sincretismo, é Nossa Senhora Sant'Ana, Mãe da Virgem Maria, portanto, avó de Jesus Cristo, nosso Salvador. Que ela abra nossos caminhos e nos guarde de todo mal! Salubá, Nanã!
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