Chegamos
ao sétimo mês do ano, após os festejos juninos, em Salvador/Ba,
comemora-se o 'Dois de Julho', data da Independência da Bahia, com
desfile cívico composto de populares e de políticos. Na Lapinha, no
bairro da Liberdade, em 1860, foi construído o pavilhão patriótico
que abriga as carroças do caboclo e da cabocla, que são chamadas de
carros emblemáticos, uma vez que têm como adornos brasões e outros
símbolos nacionais, além dos nomes das batalhas e dos heróis da
guerra.
Eles
só saem de lá no dia 2 de julho, quando são conduzidos para o
Largo do Campo Grande, onde, em 1895, foi inaugurado o Monumento à
Independência da Bahia, criado pelo artista italiano Carlos Nicoli.
Do alto de uma coluna de bronze, assentada sobre um pedestal de
mármore Carrara, formado por dois corpos e escadarias do mesmo
material, a figura de um índio, com 4,11m de altura, simboliza a
afirmação da identidade brasileira.
Armado
de arco e flecha, o caboclo mira uma serpente, que esmaga com seus
pés. Além da alusão ao golpe desferido no poder da metrópole, o
majestoso monumento de 25,86m de altura apresenta um série de
representações das batalhas campais e dos nomes dos heróis que
participaram das lutas de emancipação, bem como dos rios São
Francisco e Paraguaçu, e da cachoeira de Paulo Afonso. Nos terreiros
de Candomblé tais entidades também são referenciadas e populares
também rendem homenagens a estas entidades, frente ao monumento,
chegando a acender velas e fazer pedidos frente ao monumento erguido
na Praça Dois de Julho.
Nos
terreiros de Candomblé, em julho, rende-se homenagem a Nanã e a
Oxumaré.
Nanã
é a Senhora da morte, geradora de Iku (morte). Deusa dos pântanos e
da Lama. Mãe da varíola, regente das chuvas, Nanã é de origem
Jeje, da religião da Dassa Zumê e Savê, no Daomé, hoje conhecida
com República de Benin. Entre o mundo dos vivos e o mundo dos
mortos, existe um portal. É a passagem, a fronteira entre a vida e a
morte que tem Nanã como sua regente.
A
mais temida de todas os Orixás. A mais respeitada. A mais velha,
poderosa e séria. Nanã é o encantamento da própria morte. Seus
cânticos são súplicas para que leve Iku – a morte – para longe
e quem permite que a vida seja mantida.
É
a força da Natureza que o homem mais teme, pois ninguém quer
morrer! Ela é a Senhora da passagem desta vida para outras,
comandando o portal mágico, a passagem das dimensões.
Nas
casas de Santo, Nanã é extremamente cultuada e temida, pelo poder
que ostenta. É ela a mãe da varíola e se faz presente quando
existe epidemia da doença.
Nanã
também está presente nos lodaçais, lamaçais, pois nasceu do
contanto com água com a terra, formando a lama, dando origem à sua
própria vida. Em terras da África, Nanã é chamada de Iniê e seus
assentamentos (objetos sagrados) são salpicados de vermelho.
Nanã
é lama, é terra com contato com a água. Nanã também é o
pântano, o lodo, sua principal morada e regência.
Ela
é a chuva, a tempestade, a garoa. O banho de chuva, por isso, é uma
espécie de lavagem do corpo, homenagem que se faz à Nanã,
lavando-se no seu elemento. Por isso, não devemos blasfemar contra a
chuva, que muita vezes estraga passeios, programas, compromissos,
festas e acontecimentos. A chuva é a parte da vida, que vai irrigar
a terra, Se ela cai demais, é porque a força da Natureza, Nanã,
está insatisfeita.
Considerada
a Iabá (orixá feminina) mais velha, foi anexada pelos iorubanos nos
rituais tal a sua importância. Nanã é a possibilidade de se
conhecer a morte para se ter vida. É agradar a morte, para viver em
paz. Nanã é a mãe, boa, querida, carinhosa, compreensível,
sensível, bondosa, mas que, irada, não reconhece ninguém.
Nanã
é o Orixá da vida, que representa a morte. E a isso devemos o
máximo respeito e carinho.
Os
filhos de Nana são pessoas extremamente calmas, tão lentas no
cumprimento das suas tarefas que chegam a irritar. Agem com
benevolência, dignidade e gentileza. As pessoas de Nana parecem ter
a eternidade à sua frente para acabar os seus afazeres; gostam de
crianças e educam-nas com excesso de doçura e mansidão, assim como
as avós. São pessoas que no modo de agir e até fisicamente
aparentam mais idade.
Podem
apresentar precocemente problemas de idade, como tendência a viver
no passado, de recordações, apresentar infecções reumáticas e
problemas nas articulações em geral.
As
pessoas de Nana podem ser teimosas e “ranzinzas”, daquelas que
guardam por longo tempo um rancor ou adiam uma decisão. Porém agem
com segurança e majestade. As suas reações bem equilibradas e a
pertinência das suas decisões mantêm-nas sempre no caminho da
sabedoria e da justiça.
Embora
se atribua a Nana um caráter implacável, os seus filhos têm grande
capacidade de perdoar, principalmente as pessoas que amam. São
pessoas bondosas, decididas, simpáticas, mas principalmente
respeitáveis, um comportamento digno da Grande Deusa do Daomé.
Quanto
a Oxumaré, podemos dizer que é a serpente-arco-íris; suas funções
são múltiplas. Diz-se que ele é um servidor de Xangô e que seu
trabalho consiste em recolher a água caída sobre a terra, durante a
chuva, e levá-la de volta às nuvens.
Oxumaré
é a mobilidade e a atividade. Uma de suas obrigações é a de
dirigir as forças que produzem o movimento. Ele é o senhor de tudo
o que é alongado. O cordão umbilical, que esta sob seu controle, é
enterrado, geralmente com a placenta, sob uma palmeira que se torna
propriedade do recém-nascido, cuja saúde dependerá da boa
conservação dessa árvore. Ele é o símbolo da continuidade e da
permanência e, algumas vezes, é representado por uma serpente que
se enrosca e morde a própria cauda. Enrola-se em volta da terra para
impedi-la de se desagregar. Se perdesse as forças, isso seria o fim
do mundo… Eis aí uma excelente razão para não se negligenciar as
suas oferendas.
Oxumaré
é, ao mesmo tempo, macho e fêmea. Esta dupla natureza aparece nas
cores vermelha e azul que cercam o arco-íris. Ele representa também
a riqueza, um dos benefícios mais apreciados no mundo dos iorubás.
Certas
lendas de Ifá contam que “ele era, outrora, um babalaô
‘filho-do-proprietário-da-estola-de-cores-brilhantes’. Começou
a vida com um longo período de mediocridade e mereceu, por essa
razão, o desprezo de seus contemporâneos. Sua chegada final à
glória e ao poder é simbolizada pelo arco-íris. E como a presença
do arco-íris impede que a chuva caia, isso também demonstra a sua
força.
O
lugar de origem desse orixá, como Obaluaê e Nanã Buruku, seria em
Mahi no ex-Daomé, onde é chamado Dan. As contas azuis, segi para os
iorubás, são aí chamada Danni (“excremento-de- serpente”) na
língua fon. Segundo a tradição, essas contas são encontradas sob
a terra, onde elas teriam sido evacuadas pelas serpentes; diz-se que
elas têm um valor igual ao próprio peso em ouro.
Dan
desempenha, entre os mahi e os fon, um papel mais importante que
Oxumaré para os iorubás, como divindade que traz a riqueza aos
homens.
O
orixá da riqueza é chamado Aje Sàlugá na região de Ifé, onde se
diz que chegou entre os dezesseis companheiros de Odùduà. Ele é
simbolizado por uma grande concha.
No
Brasil, as pessoas dedicadas a Oxumaré usam colares de contas de
vidro amarelas e verdes; a terça-feira é o dia da semana consagrado
a ele. Seus iniciados usam brajá, longos colares de búzios,
enfiados de maneira a parecer escamas de serpente, e trazem na mão
um ebiri, espécie de vassoura feita com nervuras das folhas de
palmeira. Outras vezes seguram também uma serpente de ferro forjado.
Durante suas danças, seus iaôs apontam alternadamente para o céu e
para a terra. As pessoas gritam “Aoboboí!!!” para saudá-lo. A
Oxumaré são feitas oferendas de patos e pratos de comida onde se
misturam feijão, milho e camarões cozidos no azeite-de-dendê.
Oxumaré
é o arquétipo das pessoas que desejam ser ricas; das pessoas
pacientes e perseverantes nos seus empreendimentos e que não medem
sacrifícios para atingir seus objetivos. Suas tendências à
duplicidade podem ser atribuídas à natureza andrógina de seu deus.
Com o sucesso tornam-se facilmente orgulhosas e pomposas e gostam de
demonstrar sua grandeza recente. Não deixam de possuir certa
generosidade e não se negam a estender a mão em socorro àquele que
dela necessitam.
Portanto,
caro leitor internauta, estamos num período coroado pela dualidade
entre a vida e a morte representados por Nanã e da dualidade
andrógina de Oxumaré, devendo-se respeitá-los e venerá-los pela
condução dos destinos de seus filhos e evocá-los para que se
obtenha sucesso e que deles emanem energias de inteligência e
sagacidade para obtenção de nossos objetivos! Olorum sempre nos
nossos caminhos com a sua Luz e Proteção! Até a próxima postagem!