“Neste período de Agosto, nada
mais justo que comentarmos sobre S.Roque, responsável pela cura de
enfermidades erradicação e da proliferação de doenças que se
espalham pelo mundo. Principalmente pela notável demonstração de
ecumenismo entre a Igreja Católica e o Camdomblé , quando foi
permitida a entrada dos adeptos do Camdomblé nas dependências da
Paróquia da Ressurreição para reverenciar ao santo junto aos
católicos. Registro aqui os meus parabéns aos representantes da
Igreja Católica por essa demonstração de tolerância religiosa e
de compreensão de que tomos somos iguais perante os olhos de Deus!
Portanto, aqui vai a nossa 'postagem roqueana'! Boa leitura!”
Os
fiéis baianos comemoraram no dia 16 de agosto, o dia de São Roque,
considerado pelos católicos como o protetor das doenças e
enfermidades. Logo cedo, por volta das 5h30, uma alvorada de fogos
avisava, em frente à Paróquia da Ressurreição, em Ondina, que o
dia seria dedicado ao santo. Na sequência, os fiéis fizeram a
cerimônia de reza dos terços e a primeira missa foi iniciada por
volta das 7h.
São
Roque nasceu na França, em Montpellier, no ano de 1295, uma época
em que a Europa vivia um momento das mais variadas epidemias,
decorrentes das más condições de saneamento básico da época. E
foi neste cenário que São Roque, de acordo com as crenças
católicas, começou a curar doentes de todo o continente, afastando
as pestes por onde passava. Era filho do governador, estudou nas
melhores escolas da cidade e provavelmente cursou a Faculdade de
Medicina. O jovem Roque perdeu os pais, mas decidiu, ao invés de
administrar os bens e patrimônios da família, seguir as palavras de
Jesus. Distribuiu seus bens e deixou a cidade para deparar-se com a
epidemia da peste negra e apresenta-se para ajudar os doentes como o
Bom Samaritano. Assim como São Roque, Obaluaê também é
homenageado protetor das doenças infectocontagiosas. Ele não apenas
é o curador das doenças, tem também o poder de causá-las. Sua
veste é de palha, esconde o segredo da vida e da morte. Reservado,
simples, trabalhador e solitário, Obaluaê é o nome usado para o
Omolu velho, mais introvertido. Ele é considerado o Padroeiro dos
inválidos na religião católica.
O
palco da comemoração, A Paróquia da Ressurreição, em Ondina, foi
construída no século XVIII, é templo religioso de São Roque e de
São Lázaro. Durante todo o dia fiéis passaram pela igreja para
prestar sua devoção ao santo das enfermidades. Além de padroeiro
dos enfermos, São Roque também é o santo padroeiro dos médicos
cirurgiões e protetor dos gados.
Omulú
é responsável tanto pela cura, quanto pela disseminação de
doenças infectocontagiosas. Se no interior da igreja os católicos o
comemoram, na área externa os adeptos da religião africana também
se reúnem em comemoração ao santo protetor. Do lado de fora,
membros dos terreiros de Candomblé próximos à igreja realizam a
lavagem das escadarias. A fusão dos dois lados do culto ao santo nos
dá um belo exemplo da perfeita harmonia entre as religiões afro e
católica, mostrando que o que realmente vale é a fé que brota do
povo. Sendo ainda que este ano , numa completa miscigenação de
culturas, os adeptos do candomblé puderam adentrar no templo e
assim reverenciarem juntos o santo do dia, numa das mais belas
reuniões ecumênicas até então acontecida onde o sagrado e o
profano ocuparam o mesmo lugar no sacro espaço, maravilha de se ver,
beleza de se ter!
Nesta
manifestação de origem católica portuguesa foi realizada uma
missa, tríduo e solene procissão em louvor ao segundo padroeiro da
Igreja de São Lázaro. Presença ativa do candomblé, que homenageou
Omolu com lavagem da escadaria da igreja de São Lázaro, velas
acesas e banho de pipoca. A festa de São Roque, é uma das tradições
compartilhadas nas diversas regiões do Engenho Velho da Federação
e Federação, bairros de Salvador.
Em
algumas casas de santo, as pipocas são estouradas em panelas com
areia da praia aquecida, lembrando a relação desse orixá com
Iemanjá, chamado respeitosamente de tio, principalmente pelo povo da
casa branca. Afinal, conta a história que Omolu, muito doente, foi
abandonado num rio perto da praia por sua mãe Nanã, por ele ter
nascido com grandes deformidades na pele. Iemanjá o tomado como
filho adotivo e o curou das doenças. Seu amor materno por ele foi
tão grande, que ela o criou como seu próprio filho. Por isso, são
realizadas oferendas a Omolu nas areias das praias do litoral
brasileiro. Vestido com palha da costa e com contas nas cores
vermelha, preta e branca, Omolu dança o opanijé, dança ritual
marcada pelo ritmo lento com pausas, enquanto segura em suas mãos o
xaxará, instrumento ritual também feito de palha-da-costa e
recoberto de búzios. Em alguns momentos da dança, Omolu espanta os
eguns, (espíritos dos mortos) e afasta as doenças, com movimentos
rituais.
Omolu
também possui relação com Iansã, em especial Oyá Igbalé,
qualidade de Iansã que costuma dançar na ponta dos pés e direciona
os eguns para o reino de Omolu.
Junto
a Nanã Buruque e Oxumaré, forma a família de orixás dahomeana,
costuma ser reverenciado às segundas-feiras e sincretizado com os
santos católicos São Lázaro e São Bento de Núrsia, patrono da
boa morte.
Tanto
São Lázaro quanto Omolu são ligados à cura de doenças epidêmicas
e rituais de limpeza do corpo. São Lázaro é representado como um
santo mendigo cheio de feridas. Conta-se que ele vivia no abandono
por sua pobreza e doença, obrigando-lhe a mendigar à porta de um
rico, insensível à sua pobreza. A morte, no entanto, os iguala,
pois no céu as posições se invertem. Assim como São Lázaro, a
história de Omolu também passa pelo desamparo. Conta-se que ele foi
abandonado no mar por seus pais por causa de seu corpo cheio de
feridas. Iemanjá o salva e, com folhas de bananeira, protege seu
corpo, por isso sua representação no candomblé traz roupas de
palha, fila (capuz), xaxará e búzios.
Atotoó
Obaluaiê! Atotoó meu Pai, Salve São Roque! Socorrei-nos nas nossas
horas de dor e curai nossas enfermidades do corpo e da alma! Louvado
seja S. Roque na plenitude do seu dia! A ti meu respeito e saudação!
Abençoa a todos nós, com sua mão divina!
Ao
leitor internauta, o meu abraço e gratidão pela atenção que tem
me dedicado! A Paz de Olorum com todos! Até a próxima postagem!